12 fevereiro 2009

12/02/09 - 09:54
"O céu desabou"
Tragédia da Igreja Renascer em São Paulo enluta evangélicos e desencadeia troca de acusações.

A impressionante imagem do templo destruído: desabamento provocou nove mortos e uma batalha entre a Renascer e os órgãos públicos.
Depois da prisão dos líderes da Igreja Apostólica Renascer em Cristo, Estevam Hernandes e a mulher, Sônia, nos Estados Unidos, ninguém poderia prever que o pior capítulo da história da denominação ainda estava para ser escrito. Pois o foi da maneira mais dolorosa possível na noite de domingo, 18 de janeiro, quando o teto ornamentado com pinturas de uma imensa cruz e um céu estilizado veio abaixo no templo-sede da denominação, localizado na Rua Lins de Vasconcelos, bairro do Cambuci, zona sul de São Paulo. Placas de gesso, estruturas metálicas e telhas desabaram sobre as centenas de fiéis que aguardavam o início do concorrido culto das 19h. Sob o entulho, o terrível saldo da tragédia: nove mortos e mais de cem feridos. Em poucos minutos, a notícia da tragédia era veiculada via internet para o Brasil e o mundo. Por todo o país, igrejas interromperam suas programações para orar em favor das vítimas e de suas famílias. Transeuntes, curiosos, bombeiros e policiais acorreram na tentativa de resgatar as vítimas nos escombros do prédio, que no passado abrigou o Cinema Riviera e que foi tranformado na sede mundial de uma das mais dinâmicas – e polêmicas – organizações neopentecostais do país. Entre os membros da Renascer, a dor inicial deu lugar a um sentimento de determinação para recomeçar tudo. Reunidos nos templos cedidos por outras igrejas da região ou no salão alugado de um clube, os fiéis desalojados receberam mensagens de fé e palavras de ânimo dos dirigentes, transmitidas por um telão desde os EUA. “Não sabemos o motivo do que aconteceu, mas há de haver um propósito para tal sofrimento”, sublinhou o apóstolo da Renascer.Na guerra de palavras depois da tragédia, autoridades, especialistas e veículos de imprensa deixavam no ar que a causa do acidente foi a negligência na manutenção adequada do telhado, enquanto os bispos da Renascer esforçavam-se para consolidar a versão de que tudo estava em ordem e que o desabamento foi uma fatalidade. O governador paulista, José Serra, vistoriou o local do acidente acompanhado do prefeito da capital, Gilberto Kassab, e deu a melhor definição para o ocorrido, numa ironia talvez impensada com a decoração do teto do templo: “O céu desabou”. De acordo com a perícia, o laudo com as causas do acidente deve ficar pronto até o fim de março. Cidade irregular – “Vamos apurar o que houve, quem são os engenheiros responsáveis pelas obras no templo, que material usaram – tudo vai ser inspecionado”, alardeou a promotora Mabel Tucunduva, do Ministério Público de São Paulo. Segundo ela, todos os templos da Renascer na cidade serão vistoriados. “Os locais de culto que não estiverem enquadrados na legislação serão interditados”, fez coro o secretário das subprefeituras de São Paulo, Andreas Matarazzo. Se quiser cumprir de fato a promessa, o secretário terá um grande trabalho pela frente. Citando dados da própria Prefeitura, o vereador evangélico Carlos Alberto Bezerra (PSDB) diz que 85% dos estabelecimentos da cidade – aí incluídos bares, restaurantes, clubes, lojas, templos etc – estão irregulares. Na sua opinião, a tragédia da Renascer pode ser considerado um episódio isolado e não é justo dizer que apenas as igrejas ofereçam riscos em suas construções. “Ninguém constrói um templo para que ele desabe. Não construímos igrejas como se fossem ratoeiras”, defende. Não foi a primeira vez que um templo evangélico desabou deixando vítimas fatais no Brasil. Em 5 de setembro de 1998, na cidade de Osasco (SP), o antigo Cine Glamour, que abrigava um templo da Igreja Universal do Reino de Deus, desmoronou e provocou a morte de 22 pessoas, além de quatro centenas de feridos, durante uma vigília de oração. Quatro anos depois, o culto de domingo à noite na Igreja Nacional do Senhor Jesus Cristo em Brasília também foi tragicamente interrompido quando a estrutura do teto desabou sobre cerca de 100 fiéis. Três morreram e 50 ficaram feridos no acidente. Já em setembro de 2007, uma construção de três andares que abrigava reuniões evangélicas ruiu em Marechal Hermes, subúrbio do Rio de Janeiro. Duas crianças morreram e onze pessoas ficaram feridas.

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